Varoufakis: "Vou terminar o meu livro e mais um e mais outro"
Yanis Varoufakis vive num ambiente de elegância discreta. O seu apartamento é espaçoso e agradável à vista. As prateleiras das estantes arqueiam com livros sobre política e economia, o que não admira em casa de um professor universitário que era, até julho, o ministro das Finanças da Grécia.
Varoufakis é hospitaleiro. Faz-nos café e põe uma caixa de chocolates sobre a mesa, ao lado do livro de Joseph Stiglitz sobre a desigualdade, The Great Divide. Ele está vestido com uma T-shirt vermelha escura e calças escuras. Quando marcámos este encontro disse-me que não queria falar sobre as eleições da Grécia, porque achava que era um assunto triste. No entanto, após a votação de domingo, ele está disposto a falar.
Pergunto-lhe por que razão a achou tão deprimente. Afinal, os eleitores não puniram os seus ex-colegas do governo do Syriza nem Alexis Tsipras, o primeiro-ministro. "Eu não quero reduzir a importância do triunfo de Alexis", diz ele, "mas em comparação com o referendo tivemos 1,6 milhões de pessoas que se abstiveram. O partido perdeu 363 000 votos desde janeiro. O défice democrático tem crescido substancialmente. Mesmo aqueles que votaram em Tsipras fizeram-no com tristeza e apreensão nos seus corações. Foram mesmo umas eleições muito tristes".
"Os grandes vencedores destas eleições", continua, "além de Alexis, foi a troika [o FMI, a Comissão Europeia e o BCE]".
O que resultará de tudo isto? "Um aprofundamento da crise, isso é uma certeza, e Tsipras sabe-o. A pergunta é: como é que ele se vai posicionar em relação à realidade? Porque há a retórica e há a realidade, quando se pede a pequenas empresas que paguem por conta 100% dos seus impostos futuros quando elas estão sem dinheiro e não têm acesso aos mercados de capitais. Terão de se mudar para a Bulgária ou terão de fechar. E quando se pede aos proprietários das habitações, que também não têm liquidez, para pagar o imposto sobre a propriedade. Então, o que estamos a fazer? Nós já temos um valor de evasão fiscal de 80 000 milhões de euros. Desta forma, só se vai conseguir criar muito mais. E não é evasão quando as pessoas não podem pagar."
"O alívio da dívida é uma causa perdida. Haverá uma redução substancial, porque uma dívida que é impagável não será paga.
* Texto originalmente publicado no site do Politico